* Sedução

 

A poesia me pega com sua roda dentada,
 
me força a escutar imóvel
 
o seu discurso esdrúxulo.


Me abraça detrás do muro, levanta
 
a saia pra eu ver, amorosa e doida.


Acontece a má coisa, eu lhe digo,
 
também sou filho de Deus,
 
me deixa desesperar.


Ela responde passando
 
a língua quente em meu pescoço,

fala pau pra me acalmar,

fala pedra, geometria,
 
se descuida e fica meiga,
 
aproveito pra me safar.


Eu corro ela corre mais,
 
eu grito ela grita mais,
 
sete demônios mais forte.


Me pega a ponta do pé
 
e vem até na cabeça,
 
fazendo sulcos profundos.


É de ferro a roda dentada dela.

 

Adélia Prado



08/02/2008
0 Poster un commentaire

Inscrivez-vous au blog

Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour